Săo Paulo, segunda-feira, 08 de abril de 2002

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EUROPA

Presidente Kwasniewski faz visita oficial ao Brasil

Em meio ŕ transiçăo, Polônia quer assegurar lugar na Uniăo Européia

MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A VARSÓVIA

Além de ser o maior país candidato a aderir ŕ Uniăo Européia (UE), a Polônia, cujo presidente Alexander Kwasniewski chegou ontem ao Brasil e abre hoje um fórum de comércio bilateral em Săo Paulo, está envolvida em tręs fenômenos simultâneos: a busca de uma real economia de mercado, a transformaçăo de uma sociedade bastante militarizada em uma genuína sociedade civil e a transiçăo de seu sistema político em direçăo ŕ consolidaçăo da democracia.
A curto prazo, a questăo mais relevante é a transformaçăo econômica. "De todos os desafios, a transiçăo econômica é o mais importante. Afinal, após um "choque sem terapia" inicial [1990-1993", a Polônia conheceu um período de grande sucesso econômico entre 1994 e 1997 e, desde entăo, vive uma desaceleraçăo", explicou ŕ Folha Grzegorz W. Kolodko, autor de "From Shock to Therapy: The Political Economy of Postsocialist Transformation".
Com efeito, nesse período, segundo dados oficiais fornecidos pela Agęncia Polonesa para Investimento Estrangeiro, o PIB (total de riquezas produzidas no país) cresceu em quase 30%, o desemprego caiu de 16,4% para 10,3%, e a inflaçăo foi reduzida em pouco menos de dois terços (para 13,2% em 1997).
Contudo, embora tenham obtido louváveis resultados econômicos, as políticas oficiais năo surtiram efeitos sociais imediatos, o que provocou mudanças internas. Estas e a crise financeira internacional puseram fim aos incipientes sinais de prosperidade, e o país atravessa uma fase de acentuada desaceleraçăo econômica desde 1998. O crescimento (estimado) do PIB para 2002, a exemplo de 2001, gira em torno de 1%.
"Infelizmente, entre 1998 e 2001, uma política de desaquecimento da economia foi colocada em prática, fazendo com que o PIB năo cresça mais do que 1% hoje e que o desemprego ultrapasse os 18%. Trata-se, todavia, de fatores conjunturais -năo estruturais- da transiçăo", acrescentou Kolodko, que foi vice-premię e ministro das Finanças na última década.

Adesăo ŕ UE
A grande cartada da administraçăo de Kwasniewski é a perspectiva de entrar na Uniăo Européia já em 2004, quando deverá ocorrer a primeira onda de expansăo do bloco para o Leste Europeu. Embora suas autoridades afirmem que resta pouco para que a Polônia consiga concluir os 31 capítulos das negociaçőes com a UE, é mais provável que Varsóvia faça fazer valer seu peso geopolítico para assegurar sua vaga.
"A Polônia é um país bem grande para os padrőes europeus. Além disso, é essencial que ela faça parte da primeira onda de expansăo porque se trata de um país estratégico para a Alemanha e porque, quanto antes ela entrar, mais rápido se desenvolverá seu mercado", analisou Anne-Marie Le Gloannec, diretora do Centro Marc Bloch, um instituto de pesquisas situado em Berlim.
"Todavia a economia polonesa năo tem apresentado níveis de crescimento suficientemente bons nos últimos anos. Assim, há uma situaçăo complexa: é crucial que a Polônia entre rapidamente na UE, mas ela năo apresenta resultados capazes de satisfazer todos os critérios exigidos pelo bloco europeu", acrescentou.
Em entrevista concedida a jornalistas sul-americanos, da qual participou a Folha, no Palácio Presidencial de Varsóvia, Kwasniewski mostrou-se otimista embora tenha reconhecido que ainda há obstáculos a transpor. Jaroslaw Pietras, subsecretário de Estado para Integraçăo Européia, concordou com o presidente.
"Já temos 20 capítulos concluídos e deveremos ter outros cinco ou seis fechados até julho deste ano. Até o final de 2002, tudo estará resolvido. Hoje estăo entre as questőes mais complexas as políticas agrícola, ambiental, fiscal e de transportes", declarou Pietras.
De acordo com ele, o ponto mais difícil das negociaçőes diz respeito ŕ concorręncia -ou seja, ao apoio público ŕ economia. "A questăo dos subsídios é complicada. A UE exige que apresentemos uma proposta relacionada ŕ siderurgia, por exemplo. Ela também quer que ponhamos fim ŕ zonas francas, o que seremos obrigados a fazer", acrescentou.
Outro ponto essencial relacionado aos subsídios diz respeito aos quase 50% de poloneses que vivem no campo. Segundo autoridades polonesas, a UE estima em 10% a 15% a quantidade das pequenas propriedades agrícolas polonesas que poderăo sobreviver ŕ concorręncia européia.
Assim, com mais de 3 milhőes de desempregados (de uma populaçăo total de 38,7 milhőes), com quase 6 milhőes de jovens que entrarăo no mercado de trabalho até o fim da década, com os "excluídos da Europa" -que perderăo seus empregos em pequenas propriedades agrícolas, estaleiros ou siderúrgicas-, as autoridades polonesas terăo muito trabalho para impedir a explosăo do desemprego.
Para Kolodko, o único caminho para "adaptar o país ŕ UE" passa pelo reaquecimento econômico. "É possível retornar a um forte crescimento econômico. Se o país năo crescer duas vezes mais rápido do que o restante do bloco, nem os europeus ocidentais nem os poloneses ficarăo contentes com a expansăo da UE", afirmou.
Outro problema para a Polônia veio a público na última sexta-feira, quando a UE afirmou que queria que a Polônia devolvesse quase 3 milhőes a seus cofres. Para a uniăo, a ajuda financeira foi usada inadequadamente em um projeto que está no centro de um escândalo de corrupçăo.


O jornalista Márcio Senne de Moraes viajou a convite do governo polonęs


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